Profissão Blogueiro – entenda as mudanças neste setor e o que pensar antes de embarcar nessa
Profissão Blogueiro – entenda as mudanças neste setor e o que pensar antes de embarcar nessa A teoria mais recorrente é que os blogs tenham surgido como diários e depois pela facilidade de uso acabaram se tornando plataformas para publicação de conteúdo. Muitos ainda tem essa prática como um passatempo ou lazer e outros adotaram… Continuar lendo Profissão Blogueiro – entenda as mudanças neste setor e o que pensar antes de embarcar nessa
Profissão Blogueiro – entenda as mudanças neste setor e o que pensar antes de embarcar nessa
A teoria mais recorrente é que os blogs tenham surgido como diários e depois pela facilidade de uso acabaram se tornando plataformas para publicação de conteúdo. Muitos ainda tem essa prática como um passatempo ou lazer e outros adotaram a prática como profissão ou empreendimento, dependendo do lado que se olha.
Ao pé da letra profissão não é. No Brasil existe a CBO que é a Classificação Brasileira de Ocupaçõese numa pesquisa não é possível encontrar o termo. Para o Ministério do Emprego e Trabalho a profissão de blogueiro não existe.
A solução então é dizer que não se trata de um empregado mas de um empreendedor. Vamos então recorrer ao CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), registro onde estão todas as atividades que uma empresa pode desenvolver no Brasil. Com o termo blog ou blogueiros não existe. Mas já começamos a ter algumas possibilidades:
6319-4/00 PORTAL DE BUSCA DA WEB; SERVIÇOS DE
6319-4/00 PORTAIS, PROVEDORES DE CONTEÚDO E OUTROS SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO NA INTERNET
O MEI (Programa Microempreendedor Individual com a intenção de regularizar atividades antes informais) também não tem espaço para blogueiros. Muitos para emitir nota fiscal acabam se enquadrando na categoria de “Editor de Jornais Diários”, mas é digamos um jeitinho brasileiro.
A atividade econômica de “blogueiro” no Brasil acaba sendo então uma espécie de ornitorrinco da economia criativa digital. E isso não é bom!1Aposentadoria, seguro saúde e outros direitos da economia tradicional podem se perder para quem escolhe esta atividade. Por conta disso muitos blogueiros acabam tendo outras atividades econômicas relacionadas ou não com o seu produto digital.
É o caso do Alexandre Inagaki, um dos blogueiros mais respeitados do país e publisher do blog Pensar Enlouquece, “quanto ao Pensar Enlouquece, meu blog sempre foi um projeto que toquei em paralelo às minhas outras atividades profissionais”, explica Inagaki que atua como consultor de comunicação digital de grandes marcas tais como Coca-Cola e Bradesco.
Pode parecer até bobeira ou que se trata de uma parcela muito insignificante da economia. Mas por estar envolvido diretamente com publicidade este segmento movimenta bilhões de Reais. De acordo com o projeto Inter-Meios em notícia divulgada no site especializado Meio e Mensagem:
O mercado publicitário brasileiro faturou 7,85% mais entre janeiro e outubro de 2014 do que no mesmo período do ano anterior. Dados do Projeto Inter-Meios mostram que, no acumulado do ano, os veículos brasileiros faturaram um total de R$ 27,777 bilhões.
É fato que deste montante a TV ainda detém uma grande fatia, mas os investimentos destinados ao mundo digital tem aumentado.
Em novembro de 2014 o site ADnews publicou o artigo do empresário Edmardo Galli com o título 2015 – O Ano Do Digital No Brasil:
Com uma previsão de gasto de $3,19 bilhões em publicidade digital para o ano de 2014, e um crescimento de 15% desse número ($3,67 bilhões) no ano seguinte, o Brasil desponta como o maior investidor desse setor na América Latina, aparecendo com 60,3% de porcentagem de investimento no continente, mais que o triplo que o segundo colocado, o México (17,0%).
O empresário cita dados do artigo do site norte-americano E-marketer (em inglês):
Nem tudo que é digital vai para os sites é fato. Em 2014 a IAB Brasil (entidade que representa o setor de mídia digital no país) divulgou expectativa de investimentos na área de R$ 7 bilhões.
Em 2014 tivemos portanto investimentos de pouco mais de R$ 2,5 bilhões em portais, sites e blogs. Este último se dilui entre compra de anúncios diretos, mídia programática, compra de publieditoriais (posts pagos) e outros formatos como casting e contratação de formadores de opinião digital para se engajarem em campanhas. Como o leitor pode perceber não é uma tarefa fácil saber qual é o tamanho do mercado dos blogueiros nem quanto dinheiro há neste segmento. Esta dificuldade se soma ao fato de por não ser uma “atividade oficial” também não existe um dado de qual é o tamanho da blogosfera brasileira. Em 2010 a Revista Época Negócios afirmou que o Brasil é o 4.o país do mundo em número de blogueiros.
Já em 2014 a Comscore publicou pesquisa em que os blogs brasileiros figuram em segundo lugar no ranking mundial de alcance. Mesmo assim não temos um dado confiável de número de blogueiros no país.
Uma nova opção para a carreira
Falta de regulamentação e números do setor, ausência de direitos e dificuldade em se saber quanto dinheiro circula neste meio. Mesmo com este cenário há um crescente número de pessoas que se motiva não só a produzir conteúdo por estas plataformas quanto também por ganhar dinheiro com elas. Há várias explicações e a queda do emprego dito tradicional e declínio do modelo de negócios dos veículos de imprensa tradicionais podem dar algumas pistas sobre isso.
É o caso desta matéria da agência Fapesp (órgão de fomento à pesquisa do Estado de São Paulo) que apontou a crise no jornalismo como a justificativa para o aumento de blogs científicos:
Há um crescimento do número de blogs de ci
ências no mundo, especialmente nos países que falam inglês, e a crise no jornalismo mundial tem contribuído para esse aumento”, disse Botelho, que também mantém, o blog Diálogos com Ciência e realizou um estudo sobre 150 blogs no Brasil.
(…)
A fim de suplantar a perda de espaço editorial dedicado à ciência, especialmente na mídia impressa, e aumentar a divulgação de resultados de pesquisas realizadas por cientistas brasileiros, tem aumentado o número de blogs de ciência no Brasil, apontou Botelho.
O número de blogs de ciência brasileiros, contudo, ainda é bem menor do que o número de blogs nos Estados Unidos e na Europa. E as políticas editoriais para os blogs ainda são muito incipientes no Brasil, destacou a pesquisadora.
“No Brasil não temos políticas editoriais muito estruturadas para blogs em geral e para os blogs científicos como as implementadas por veículos de imprensa e instituições universitárias de países como os Estados Unidos e Reino Unido”, comparou Botelho.
Não se pode negar também que há um certo glamour na carreira. A imprensa colabora para isso. Nesta matéria divulgada pelo portal IG com o sugestivo título “Blogueiros profissionais ganham (muito) dinheiro com posts na internet” há relatos de profissionais desta área que ganham dezenas de milhares de Reais com seus canais:
Antenados com o mundo dos negócios da comunicação das marcas, blogueiros engordam suas contas bancárias, mas não é possível dizer quanto cobram, pois o preço é negociado em cima de um conjunto de variáveis: a audiência alcançada pelo blogueiro (quantos seguidores e em quais redes sociais atua), o setor de mercado que influencia e o poder de fogo do contratante (quanto pode pagar por postagem) uma empresa, qual seu tamanho.
Também não é possível dizer quanto os blogueiros de primeira linha ganham por mês, porque esse tipo de informação não costuma ser revelada. No mercado de moda, as blogueiras com maior número de seguidores chegam a cobrar R$ 5 mil por um post no Facebook, R$ 4 mil no Instagram, R$ 6 mil no Youtube, R$ 2 mil por um banner lateral no site ou blog, R$ 4 mil por um publieditorial com texto.
Surge também o fenômeno das WebCelebridades, blogueiros ou produtores de conteúdo digital que são imãs de público. Eles fazem viagens internacionais a convite de marcas, aparecem em eventos e dão depoimentos sobre produtos e serviços influenciando as vezes milhões de pessoas sobre determinada marca. É um universo de contrastes e uma espécie de universo paralelo para quem não acompanha o setor.
E voltando ao cenário digamos mais tradicional os números são preocupantes. Matéria divulgada hoje pelo The São Paulo Times mostra que o desemprego no país bateu recorde em 2015:
“Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados pelo Ministério do Trabalho, mais de 80 mil vagas formais de trabalho foram fechadas no Brasil em janeiro, o pior resultado para o mês desde 2009. De dezembro de 2014 até hoje, 237 mil pessoas perderam o emprego. “
São centenas de milhares de pessoas que terão que em muito pouco tempo procurar uma nova fonte de renda.
Ser blogueiro pode ser então uma boa alternativa de fonte de renda?
Não é bem assim. Com mais de uma década de vida, o setor dos blogs profissionais passa por uma grande transformação. Quem nos explica mais sobre isso é o Thiago Mobilon editor do blogTecnoblog, “A internet evoluiu muito daquela época para cá, tanto em tecnologia (HTML5, mobile, videos etc.) quanto em conteúdo. Por exemplo, quando comecei, textos curtos com dicas rápidas eram comuns em blogs. Hoje esse tipo de conteúdo acaba indo para o Facebook, Twitter, Tumblr etc. O papel do blog mudou, um pouco. A publicidade online também amadureceu. O Tecnoblog demorou alguns anos até começar a lucrar com anúncios em vez de parcerias. Existia uma resistência na época, que foi se quebrando conforme os blogs foram crescendo e mostrando a sua capacidade de engajamento”, definiu Mobilon que tem um dos cases de empreendedorismo com blog mais interessantes do Brasil.
E para cada caso de sucesso há milhares de pessoas que se frustram em não conseguir êxito na atividade. A Thais Godinho do blog Vida Organizada e autora do livro best seller Vida Organizada dá algumas pistas de porque alguns projetos não vingam. “A primeira é que a pessoa precisa ter paixão pelo assunto que vai escrever. É impossível manter um blog sem paixão porque você vai falar sobre o tema por muito tempo e não tem como tem como ser de outro jeito. A outra coisa é a persistência. Parece o recente caso das paletas mexicanas, a pessoa vê que tem outras ganhando dinheiro e quer montar uma paleteria só pela moda”, explicou a blogueira que gentilmente nos atendeu durante um dos inúmeros eventos que tem participado.
Outra pergunta possível é se neste novo cenário investir em um blog como fonte de renda seria o melhor caminho. Com o surgimento de novos canais, produtores de conteúdo estariam migrando para outras plataformas como o Youtube, que também proporciona remuneração com publicidade. O Youpix é um dos principais sites que trata deste tema e no começo do mês passado a sua editora Bia Granja fez um post polêmico com a pergunta O que aconteceu com a blogosfera brasileira? Veja um trecho:
Lembro quando, no ano passado, o Cid do Não Salvo, após ganhar mais uma vez o prêmio de blog do ano no youPIX, comentou comigo que o Não Salvo é a resistência. O que ele quis dizer é que, em uma premiação inundada de influentes que tem no vídeo seu principal formato criativo e de distribuição, ele é um dos únicos premiados que vem de outro ecossistema, a blogosfera.
E ele tem razão. Dos grandes nomes superstars da internet hoje, daqueles que tem uma legião de fãs que os cercam em eventos querendo selfies e autógrafos e protagonizam cenas “fã-ídolo” daquelas que a gente só via rolando com artistas de TV ou do rock, o Cid é o único que não é youtuber.
Não estou falando que o blog vai morrer, que quem bloga não tem relevância ou nada disso. Só estou dizendo que, desde que o Youtube entrou na jogada como ferramenta de expressão, os blogueiros perderam uma grande parte de sua grandeza e, em alguns casos, seu propósito.
O formato blog não morreu mas estaria com prazo de validade marcado? Mais uma vez o Inagaki nos dá uma luz em entrevista para este blog:
Com o aumento do uso da internet através de dispositivos móveis, aliado à popularização crescente do 4G e da banda larga, a tendência de que pessoas passariam a ver ainda mais conteúdos audiovisuais através de aplicativos como Vine e Instagram era mais do que esperada.
Juntando tudo isso aos avanços tecnológicos que tornam smartphones e câmeras como GoPro cada vez mais acessíveis, não é de se admirar que tenha surgido um boom de consumo de canais de vídeos como Porta dos Fundos, Parafernalha e Manual do Mundo, assim como a ascensão de uma nova geração de youtubers com milhões de inscritos em seus canais, como nos casos de Chris Figueiredo, Júlio Cocielo, Lucas Lira e Taciele Alcolea.
Agora, o caso é que há espaço para todos os tipos de conteúdos. Ok, o conteúdo “mainstream” de internet pode até estar migrando para vídeos, mas blogs de entretenimento como Não Salvo, de viagens e turismo como Viaje na Viagem, de moda como Garotas Estúpidas e Just Lia, de cultura pop como Papel Pop e de tecnologia como Tecnoblog e Meio Bit permanecem firmes e fortes no cenário, com milhões de visitantes por mês e fechando continuamente campanhas publicitárias. Vlogs não matarão blogs, do mesmo modo que cadáveres insepultos como rádio, TV e jornais continuam tendo o seu espaço e convivendo em paralelo.
Ele mesmo já pensa em novos formatos para o Pensar Enlouquece e confidencia que tem sim ideias ligadas a vídeos, na opinião dele “algo que, creio, será quase inevitável a todo profissional que trabalha como problogger em tempo integral” finaliza Inagaki.
O Thiago Mobilon compartilha da mesma visão e lembra se o objetivo da pessoa é ter uma fonte de renda ou ser famoso. Para o blogueiro são coisas distintas:
Eu acho toda essa discussão sobre o fim dos blogs um tanto prematura. Primeiro porque os números dos bons blogs brasileiros continuam crescendo. Segundo porque cada conteúdo funciona em um formato e o vídeo não é a resposta para vida, universo e tudo mais. Terceiro, falam do fator “fama”, que os Youtubers são mais populares que os blogueiros… Mas isso é uma característica do vídeo! E quem falou que o papel do blogueiro é ser rockstar?
Por último, fala-se que parte da verba que antes era direcionada aos blogs, agora começa a ir para o YouTube. Aí eu pergunto: quanto da verba do online ainda fica apenas nos portais aqui no Brasil? E nos EUA? Não há mais espaço para crescer?
O formato vídeo, se bem explorado, pode trazer benefícios para os blogs. No Tecnoblog publicamos o nosso primeiro review em vídeo em 2008, quando ninguém falava ainda em vlogs e canais de Youtube. Ajuda o leitor a perceber as dimensões do aparelho.
Alguns blogueiros migraram para o vídeo, mas porque o blog não funcionava bem para eles. Não significa que seja assim para todos. Vejo o vídeo como uma oportunidade de oferecer um conteúdo diferenciado ao leitor e uma forma de aumentar o engajamento do site. Não como uma condição do tipo “produza ou deixe de existir”.
E ele lembra que falar que os blogs estão datados é a mesma coisa que dizer que a internet no modelo atual também está datada:
Eu não entendo por que as pessoas se precipitam em falar que um vai morrer porque o outro está ganhando visibilidade. Foi assim com o Twitter também, lembra? Video e blog servem propósitos diferentes e se você acha que o segundo vai morrer por causa do sucesso do primeiro, então está profetizando a morte do conteúdo textual de toda a internet, não só dos blogs.
De uma maneira geral podemos perceber que ainda há espaço para novos blogueiros, porém os holofotes agora podem estar em outras plataformas. Uma matéria da Folha de SP apontou, por exemplo, que os Brasileiros Ganham mais dinheiro com o Youtube, no texto é citado o caso da Nina Santina que de acordo com a reportagem chega a ganhar R$ 10.000,00 por mês com comissão de anúncios. Ela tem 230 mil inscritos no canal e acumula 26 milhões de visualizações.
Capacitação é fundamental para o setor
stifler
Para o blogueiro Stifler conhecimentos em marketing administração e empreendedorismo são fundamentais. foto: arquivo pessoal
Para quem resolveu empreender na área agora os mais experientes lembram que a capacitação é fundamental. Stifler é publisher do Blog Criatives e explica quais competências são necessárias para quem começar a blogar agora. “Quem está iniciando um blog por gostar de um determinado conteúdo, tem que saber também que antes de saber sobre o nicho, você preci
sa ter uma certa afinidade por marketing digital e design. Não adianta apenas saber escrever bem sobre um determinado tema, se você não consegue fazer com que ele apareça para o mundo. Creio que a melhor coisa a fazer é estudar muito sobre marketing, administração e empreendedorismo para que um blog consiga caminhar para ser não só um site mas como um empreendimento”, confidencia Stifler que está entre os quatro blogs mais acessados de criatividade do Brasil.
E mesmo para quem já está estabelecido no setor a necessidade de renovação é constante. “O nosso maior desafio é fazer com que ele fique em primeiro batendo os nossos concorrentes e sendo ainda mais uma referência para o conteúdo inspirador e criativo brasileiro”, finaliza Stifler.
Como em qualquer outra profissão é possível sim atingir o sucesso, mas é preciso empenho e dedicação. Talvez a profissão de blogueiro não seja para você, mas se for é preciso arregaçar as mangas e pelo que pudemos ver é possível, mas está cada vez mais desafiador.
Fonte: Digitalks